Sábado, 21 de dezembro de 2013
Não sei quando voltarei ou se voltarei a frases assim vinculadas a uma ordenação temporal. Talvez. As palavras entendi-as sempre como um favor. Por isso gosto tão pouco de falar. Espécie de fruto da terra, respiramo-las. Entrego-me a elas para que rompam na escrita o meu silêncio. Melhor seria mesmo dizer, para que irrompam do seu silêncio.
Chegou a noite mais longa. A lareira está acesa. A noite, percorro-a entre o escuro das árvores pelos caminhos do bosque, é um ramo vivo de tristeza sob o negro.
João Miguel Fernandes Jorge, O Bosque,
Lisboa, Relógio D'Água, 2016
[ID, Regresso a casa, Novembro 015]
*
[...]
Tudo se passa sempre como aquela menina de que nos fala Sartre. (Nunca me cansei dessa imagem.) Saía, pé ante pé, do seu jardim e fechava atrás de si a cancela, para depois regressar, sem o menor ruído, só para ver como era o jardim na sua ausência. Richter fala-nos, numa sua pintura, de uma figura feminina em tudo semelhante a esta: está sentada num canal de uma das ilhas de Veneza. Olha a distância. Todavia, o seu olhar não vai além do braço de mar sobre o qual os seus pés balançam. Vê a Veneza da sua ausência. [...]
João Miguel Fernandes Jorge, O Próximo Outono,
Lisboa, Relógio D'Água, 2012
Lisboa, Relógio D'Água, 2012
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