BICICLETA
Por vezes, ocorria-te pensar no destino
que tomavam as carroças dos ciganos,
ou no brilho dos olhos do carteiro, variando
porta a porta, como se tivesse lido as cartas.
Mas aquele era um tempo de certezas. Os pedais
da bicicleta depressa te tiravam qualquer dúvida.
Um dia, porém, emigrou a família do João,
levando-nos à força o melhor dos ciclistas:
a rua parcialmente destruída, toda a gente
debruçada no seu próprio parapeito. E ninguém
se lembrou de nos dizer o que é o mundo.
Vítor Nogueira, Segunda Voz,
Lisboa: Averno, 2014
Alain Resnais, Hiroshima mon amour (1959)
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