INFÂNCIA
I
Terra
sem uma gota
de céu.
II
Tão pequenas
a infância, a terra.
Com tão pouco
mistério.
Chamo às estrelas
rosas.
E a terra, a infância,
crescem
no seu jardim
aéreo.
III
Transmutação
do sol em oiro.
Cai em gotas,
das folhas,
a manhã deslumbrada.
IV
Chamo
a cada ramo
de árvore
uma asa.
E as árvores voam.
Mas tornam-se mais fundas
as raízes da casa,
mais densa
a terra sobre a infância.
É o outro lado
da magia.
V
E a nuvem
no céu há tantas horas,
água suspensa
porque eu quis,
desmorona-se e cai.
VI
Céu
sem uma gota
de terra.
Carlos de Oliveira
in A Perspectiva da Morte, sel. de Manuel de Freitas,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2009
[ID, Lx, ontem]
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