sábado, 4 de junho de 2011

P de (Os) Pássaros em Volta (II)

POEMA PARA UM PÁSSARO QUE O LUIS MANUEL GASPAR NÃO PINTOU


Morreu-me entre as duas mãos o pássaro
vadio, era o meu peixe azul num aquário,
o fanatismo de ser de um clube, o meu ídolo
com as suas pequenas patas de barro.
Visitava-me muitas vezes, cheguei a crer
que era mais do que um, mas não, era
sempre o mesmo, o meu pássaro com asas
de um negro radioso, talvez não fosse negro,
talvez fosse às riscas, mas o bico, esse
era amarelo torrado e nunca há-de haver outro
como ele. Não lhe dei de comer, porque ele
não precisava, ele desenvencilhou-se sozinho,
acompanhou-me na velhice dos dois sem nada
exigir e agora, de asas caídas e patas trémulas,
veio morrer às minhas mãos o meu amigo.


Helder Moura Pereira

in Luis Manuel Gaspar, Um Lugar nos Olhos, catálogo, Associação de produção e animação audiviosual Ao Norte, 2011

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