domingo, 5 de junho de 2011

S de Solidão (ou C de Comunidade) XXV

CANTAR DE AMIGO, PARTINDO-SE


E mais não digo, amigos. Do que sou
não vos oculto o orvalho,
o nocturno silêncio das baías,
o acender de luzes das cidades,
um balouçar de ramos (subtil peso)
ao primeiro pássaro da manhã.

Não vos digo bom-dia, malmequer
água, vento, qualquer retrato puro
à beira de um jardim
na margem deste lago
que um silêncio de espelho fez tão duro,
só em redor de mim.

Nada repito. Nada que recorde
uma viagem, um beijo, uma canção
que lembre o mar (tão longe!) como se fora
mais uma história, tímida, inventada
p'ra nos deter por toda a noite fora
neste cálido sonho de acordados


Paris, Novembro de 1980



EMANUEL FÉLIX
in 121 Poemas Escolhidos, Lisboa: Edições Salamandra, 2003

1 comentário:

Anónimo disse...

Beijo.
MM