VII.
Tantos pintores
A realidade, comovida, agradece
mas fica no mesmo sítio
(daqui ninguém me tira)
chamado paisagem
Tantos escritores
A realidade, comovida, agradece
e continua a fazer o seu frio
sobre bairros inteiros, na cidade
e algures
Tantos mortos no rio
A realidade, comovida, agradece
porque sabe que foi por ela o sacrifício
mas não agradece muito
Ela sabe que os pintores
os escritores
e quem morre
não gostam da realidade
querem-na para um bocado
não se lhe chegam muito pode sufocar
Só o velho moinho do acordeon da esquina
rodado a manivela de trabuqueta
sem mesura sem fim e sem vontade
dá voltas à solidão da realidade
Mário Cesariny, Titânia e a Cidade Queimada,
Lisboa: Publicações D. Quixote, 1977
1 comentário:
:)
(Na edição que consultei, dava o poema como publicado primeiro no Diário de Notícias, a 16 de Julho de 1964. Onde o li foi na Poesia Portuguesa do Pós-Guerra 1945-1965, organizada por Afonso Cautela e Serafim Ferreira, Lisboa, Editora Ulisseia, 1965, p. 329.)
Vou ler agora a "bela moleirinha" :)
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