2.
para a Inês
Encontraram-se
à margem dos seus deslocamentos,
duas figuras capazes de existir e morrer.
Ali,
somados ao lugar que os inventou,
foram peremptórios em reconhecer
a falência da realidade, o que só os tornou
ainda mais coesos.
Sobrepunham-se de tal forma
que os trâmites da experiência se viam instituídos
pelos seus próprios olhos.
Um tocou o outro,
a sensação de se propagarem como
âncoras debaixo de água. Tudo assim lento,
confirmado pela respiração.
Se ainda houvesse ruas,
julgaríamos que era de noite,
que chuviscava,
que tinham roupa um para o outro.
Sentiam-se emergir de um equívoco, alçados
pelo lucro do desejo.
Cruzariam a própria sombra para jurarem isso mesmo:
que existiam, que haveriam de morrer.
Que se tinham encontrado.
Vasco Gato, Napule,
Lisboa: Tea For One, 2011
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