POR MUITO QUE LEIAS NOVALIS
Ouro, incenso e mirra.
Por muito que leias Novalis
não vês tornar-se mais poética
nem mais verdadeira
a tua vida. No fundo,
só querias guardar ciosamente
(ias escrever religiosamente) a luz
que dezembro te oferece.
Ouro, incenso e mirra.
E certos direitos duramente conquistados.
O direito de impregnar na pele
a cólera das crianças,
o direito às cavidades irrevogáveis
da tua garganta,
o direito de estenderes na corda
a roupa viva dos dias,
e o de ensopares, na côdea,
os restos de gordura do prato,
escassos poderes, toda a luz
que dezembro te oferece.
Ouro, incenso e mirra
a luz que dezembro te oferece
começa logo a desaparecer.
E, por poucas que sejam, estarão sempre a mais
as palavras deste poema.
LUÍS FILIPE PARRADO
in Merry Little Christmas,
Lisboa: Averno, 24 de Dezembro de 2012
[ID, 'a luz que dezembro te oferece', 12/014]
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