quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

E de "E ando na vida à procura / Duma noite menos escura" (V)


NOCTURNO


Meia-noite em Alicante. Da varanda do meu hotel da Calle Mayor, na estreita franja negra que formam, quase se tocando, as cornijas, avisto duas gaivotas que flutuam como farrapos de linho deslizando pelo firmamento.
Uma anémica estrela tirita, solitária e desgraçada, na abóbada do céu.
Pela rua passa um tipo escrevendo uma mensagem num telemóvel. Acabo o cigarro e entro no quarto. Junto da cama, um cartaz anuncia em inglês:
"Há algo melhor do que tornar realidade os seus sonhos. Tornar realidade os dos outros...".
A poesia no século XXI.


Roger Wolfe, Tiempos Muertos,
Barcelona: Huacanamo, 2009

[Trad. ID]




"[...]

Não sei. O amor prevalece. E tem,
como as palavras, uma espécie de evidência física.
Ontem - escrevo-o em Coimbra,
numa fria varanda de hotel - poderia ter sido 
uma das noites mais felizes da minha vida.

[...]"


Manuel de Freitas, Ubi Sunt,
Lisboa: Averno, 2014




[Fotografias: ID, Coimbra, 11/014]

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