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Gosto dos teus sinais pela minha casa. O livro de Caspar Friedrich com a capa voltada para cima. O afia-lápis apoiado na face menor como se a desafiar a queda, posição em que nunca imaginei se pudesse equilibrar. O brinco que perdeste e só encontraste o minúsculo fecho que teimei guardar, embora de nada servisse. Nele deponho a alegria de o vir a encontrar e lembrar estas noites de uma felicidade suave, quase invisível. Ficava-te bem esse brinco contra o cabelo curto. Ficava-te bem o sorriso abrigado nos olhos tristes. Toda a noite te falei da morte e tu ouviste-me. Não te afastaste em passos leves, como estou habituado. Tão pouco me refutaste, com medo do que ouvirias. Toda a noite te falei da morte e tu deixaste-me estes sinais de vida. A maior riqueza que me poderias ter legado. Salvaste-me e não sabias.
Jorge Roque, Nu contra nu,
Lisboa: Averno, 2014
[ID, 'Parallel Walks', Julho 013]
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