SONETO PARA CESÁRIO
Se te encontrasse, agora, na paisagem
nocturna dos fantasmas da cidade,
contava-te dos nossos pobres versos
no teu rasto de sombra e claridade.
Contava-te do frio que há em medir
a distância entre as mãos e as estrelas,
com lágrimas de pedra nos sapatos
e um cansaço impossível de escondê-las.
Contava-te — sei lá! — desta rotina
de embalarmos a morte nas paredes,
de tecermos o destino nas valetas...
Duma história de luas e de esquinas,
com retratos e flores da madrugada
a boiarem na água das sarjetas.
DINIS MACHADO
[ID, 'Pelos caminhos da manhã', 01/013]
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