segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

J de "Jardins sous la pluie" (III)





SONETO PARA CESÁRIO


Se te encontrasse, agora, na paisagem 
nocturna dos fantasmas da cidade, 
contava-te dos nossos pobres versos 
no teu rasto de sombra e claridade. 

Contava-te do frio que há em medir 
a distância entre as mãos e as estrelas, 
com lágrimas de pedra nos sapatos 
e um cansaço impossível de escondê-las. 

Contava-te — sei lá! — desta rotina 
de embalarmos a morte nas paredes, 
de tecermos o destino nas valetas... 

Duma história de luas e de esquinas, 
com retratos e flores da madrugada 
a boiarem na água das sarjetas. 


DINIS MACHADO





[ID, 'Pelos caminhos da manhã', 01/013]

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